O PRIMEIRO VÔO
Carlinhos era um menino que nos seus primeiros
anos escolares não dava nenhum trabalho para estudar e até, era muito
caprichoso na execução dos seus deveres, porém, com o passar do tempo, foi
perdendo o interesse pelos estudos.
Não gostava mais de estudar, só que ele
pensando ser muito esperto, nunca declarava o seu desinteresse pelos livros.
Muito inteligente, mas, muito conversador e travesso. Gozava boa saúde e tinha muita energia e, o
interesse principal de Carlinhos passou a ser a constante brincadeira.
O tempo passava. Carlinhos não mudava.
Excessivamente infantil fazia da vida uma constante brincadeira e nunca levava
a sério seus deveres escolares. Ele só
pensava em aproveitar ao máximo a sua infância e que, segundo ele, se não fosse
a constante reclamação dos seus pais e dos professores, a vida seria uma
verdadeira maravilha.
Sua mãe
era quem mais sofria com o seu fraco desempenho na escola, sempre alerta, não
perdia a oportunidade de aconselhá-lo. Vivia constantemente cobrando uma mudança
de comportamento, pois sabia que na escola ele era muito conversador.
Carlinhos nunca respondia de maneira
desrespeitosa a seus pais e professores e, no horário determinado para os
estudos em casa, sempre estava a postos.
O tempo passava e ele não percebia que estava
perdendo boas oportunidades de crescimento moral e intelectual e que com esse
tipo de comportamento, se distanciava cada vez mais das oportunidades, gerando
grande preocupação para seus pais e professores.
Certo dia, entediado com suas próprias ações,
que sempre era motivo de reclamações, castigos e fraco desempenho escolar,
passou a refletir sobre as suas atitudes.
- Poxa! Eu
sei que não sou burro, as pessoas que me conhecem até comentam que eu tenho uma
inteligência privilegiada e uma capacidade inventiva muito grande, contudo, mal
aproveitada.
- Quantas vezes eu ouvi na escola em que frequento
os professores comentarem e até com certa admiração: “Esse garoto é tão
inteligente, tão esperto, criativo, saudável, mas infelizmente não aproveita os
dons que Deus lhes deu”.
E o garoto continuava com suas reflexões.
- Eu mesmo tenho observado que na minha turma existem
colegas que possuem grande dificuldade em aprender, e mesmo assim eles insistem,
perguntam, fazem, refazem, estudam, tiram boas notas, passam de ano e eu muitas vezes fico para traz sendo motivo até de chacota. Mas isso
pouco importa, pois para mim é mais importante e mais agradável curtir a vida
sempre brincando, cada vez mais e mais e mais. Todavia tem um fato que se repete
em todo final de unidade, que é a entrega do boletim escolar com notas
baixíssimas. Isso sim, me incomoda
bastante e provoca em mim vergonha e o receio de mais um castigo, e é por isso que
eu o escondo assim que chego a casa. É a solução que sempre encontro, deixando para
apresentá-lo em uma melhor hora, pois sei que não posso ocultá-lo por muito
tempo. Certamente minha mãe cobraria, e o que seria pior era ela tomar as
informações na própria escola e isso para mim estava fora de questão. Ai! Como
é difícil a hora da verdade... Como seria bom se não existisse boletim.
Depois
de um bom tempo Carlinhos acabou dormindo, mas o seu sono não foi tranqüilo.
Acordou cansado, e logo lembrou do
boletim. Imediatamente, sentiu um frio na barriga e se perguntou. O que está
acontecendo comigo?... Pela primeira vez, apesar do cansaço físico, dormi muito
tarde e por isso mesmo, acordei mais cansado do que nunca. Isso é mau.
Carlinhos teve pressa de ir para a escola. Temendo
algum comentário, lá chegando, como sempre foi sentar-se no fundo da sala, meio
largado, parecia estar numa sala de tv assistindo o seu programa favorito,
esquecido por completo o motivo da
insônia.
O tempo foi passando e a conversa no fundo era
animada e transcorria independente do assunto que a professora aplicava em sala.
Quando o parceiro de conversa se cansava, ou resolvia prestar atenção à aula
ele imediatamente providenciava outro parceiro para compactuar com seus
interesses, ou melhor, dizendo, a sua falta de responsabilidade.
De vez em quando a professora o repreendia
porque ele se entusiasmava facilmente com a conversa, e quando isso acontecia
atrapalhava bastante a aula. De imediato era convidado a ficar calado. Logo
após o ocorrido, ele simplesmente baixava o tom de voz para não despertar
atenção, e continuava o seu bla, bla, bla, esquecido completamente do motivo
que lhe tinha tirado o sono.
O sino toca, é hora do recreio, ansioso para
brincar, Carlinhos é o primeiro a se levantar e ir direto para a área de
recreação gritando para todos ouvir: Vamos galera! Agora
é só alegria.
Carlinhos aproveita o máximo do tempo
disponível, brincando de bola, pega-pega e outras brincadeiras ocasionais.
Quase não sobrava tempo para o lanche. Só não comia na sala porque era proibido.
Quando um dos alunos infligia as regras, segundo ele, era severamente castigado,
pelo simples fato de estar com muita fome, mas as ordens eram claras e se fossem
desobedecidas, no próximo dia de aula ficaria sem recreio. Em vista disso, o
aluno teria tempo suficiente para degustar o seu lanche. Que horror!... Pra que
tudo isso?... Diante dessas arbitrariedades ele concluía que não valia a pena vacilar,
e decide que o melhor para ele era comer o lanche primeiro e depois brincar a
vontade pois era o que ele mais gostava. Todos queriam com ele brincar. Com uma
imaginação fértil, e bem relacionado com a turma, nas brincadeiras era sempre o
líder e a disputa pela sua companhia era também muito grande não importando o
sexo.
Novamente o sino toca.
Sujo, e suado, Carlinhos é o ultimo entrar na
sala e sua atitude é sempre a mesma.
Os dias transcorrem sem nenhuma alteração. Sua
mãe constantemente preocupada põe Carlinhos para estudar. Sempre muito dedicada
e atenciosa ela incansavelmente procura ajudar o filho nas tarefas escolares,
tentando minorar as suas dificuldades que eram conseqüentemente geradas pela conversa
constante em sala de aula.
Como é de costume, Carlinhos diz que tem pouco
dever de casa e por insistência da mãe pega o livro para ler mais os seus
pensamentos estão bem distantes do seu conteúdo, porém quem o vê, pensa que ele
está lendo com dedicação. É pura aparência, porque quando a sua mãe vem tomar a
lição, é uma decepção, pois Carlinhos nada sabe e Dona Mariana muito calma
insiste para que ele leia novamente e com mais atenção.
Enquanto isso, num momento de profunda reflexão
D. Mariana diz a se mesma: Carlinhos passa mais horas estudando do que os
outros irmãos. Coitadinho, está com dificuldade de memorização. E com expressão
muito triste, olha para o alto, faz uma breve oração à meia voz. – Senhor nosso
Pai, ajuda o meu menino a aprender as lições escolares. Preocupada e com o
coração cheio de esperança, ela resolve ler para ele, dando ênfase a alguns
trechos do texto com a intenção de despertar um interesse maior, num esforço
hercúleo para que ele consiga absorver um pouco do conteúdo. Depois de um bom
tempo, ela pede para que ele leia em voz alta, para que com isso facilite a sua
concentração e aprendizado, o que melhorou bastante. Mas o que ela não sabia, era que na leitura silenciosa o garoto só estava
fingindo que lia com atenção, pois na verdade a sua cabeça estava naquela sala,
mais a sua mente estava em outras paragens, e quando a sua maravilhosa mãezinha aplicava o
questionário, logo constatava que ele nada
sabia.
Após a desgastante tarefa de acompanhar
Carlinhos nos estudos, condoída com as dificuldades do filho, lembra-se do
boletim, e imediatamente solicita ao filho. Prontamente Carlinhos percebendo
que é o momento ideal, aproveitando da fraqueza emocional da mamãe, levanta-se
e corre para buscá-lo e o apresenta cabisbaixo, o seu feio Boletim Escolar.
Sua mãe abre e verifica a triste situação do
filho. Triste, mas não surpreendida com as notas incrivelmente baixas, e que,
pelo andar da carruagem, ela sabia que o filho teria que repetir mais um ano,
pois não havia como recuperá-lo em tão curto espaço de tempo.
Carlinhos para quebrar o efeito que as notas
causaram, entusiasticamente promete a mãe que não írá para a recuperação e, com
esforço com certeza passaria de ano. Mas, sua mãe que já tinha visto o filho
viver essa experiência, falou com
rispidez pouco comum.
- Não basta passar de ano, é preciso ter uma
boa base, para que a série que irá cursar seja com pouca ou nenhuma dificuldade.
- Carlinhos. Já disse para você muitas vezes e
torno a repetir. É preciso estudar com vontade de aprender.
Não adianta você passar para cálculos mais
avançados se não consegue fazer os mais fáceis. Por exemplo:
Na Matemática.
Como você pode fazer as quatro operações se não domina a tabuada, resolver um
problema com Regra de Três Simples ou Composta ou qualquer outro problema, se
não dominar as operações por ele solicitadas. O mesmo ocorre com o Português:
Para ler
e entender é preciso dominar o Alfabeto, os Fonemas as Sílabas, (oxítona,
paroxítona e proparoxítona), os Encontros Vocálicos, (ditongo, tritongo e hiato),
os encontros consonantais, acentuação gráfica, a Formação das palavras
(derivação, composição), a Classificação das Palavras, (substantivo, artigo,
adjetivo, numeral, pronome verbo...).
E para fazer uma boa redação?...
Pois é. Na hora de contar uma história, fazer
uma carta uma solicitação, um relatório... Como redigir corretamente?... E os
significados das palavras?... Você já parou para refletir na importância do significado
das palavras, de se fazer entender, querer uma determinada coisa e solicitá-la
de maneira correta para não haja enganos.
Não podemos construir um bom aprendizado
pulando etapas, trocando letras, “levando gato por lebre”.
Carlinhos ficou mudo, e até muito preocupado
com as observações feitas pela sua mãe, sabia que ela tinha total razão nas
suas observações, pois já estava vivenciando há muito, as dificuldades que ela
acabara de relatar. Por isso não ousou em momento algum interrompê-la e por
outro lado, estava estupefato, com as informações e o conhecimento que sua mãe demonstrara.
Orgulhoso do que presenciara e
agradecido pela aquela chamada a realidade, e com o coração repleto de
amor e admiração, num ímpeto, beijou, abraçou agradecido das sábias palavras que há pouco ouvira.
Mariana, com os olhos marejados de lágrimas e
controlando a forte emoção que o seu querido filho lhe proporcionava, abraçando-o
com o amor que só as mães sabem sentir, e ainda admirada com a reação de
Carlinhos, que em outras oportunidades não lhe dava a chance de expressar as
suas convicções com tanta facilidade, pois quando isso acontecia, ele a
interrompia várias vezes, dizendo: Já sei, já sei já sei de tudo, e com impaciência
e irreflexão.
Contrariada, a mãe ralhava com o filho por
causa dos seus maus modos e ele imediatamente pedia desculpas e com disfarçado
objetivo de encerrar a conversa, para ela afirmava: Vou estudar, vou tirar boas
notas, vou melhorar, pode acreditar em mim mamãe. Esperançosa, com suas
afirmativas pedia a Deus que o protegesse.
Hoje
foi diferente, pensou. - Carlinhos não estava simplesmente calado, sei que ele
estava principalmente me ouvindo e absorvendo cada palavra por mim pronunciada
e sem demonstrar como em outras vezes, impaciência e descaso. E falando consigo
mesmo: - Mariana seu filho já começou a amadurecer, tens que aproveitar o campo
fértil e plantar saudáveis sementes. E, para não perder a abençoada
oportunidade, depois de um longo abraço, repleto de amor e entre profundas
reflexões, afastou o filho carinhosamente e olhando dentro dos seus olhos
disse:
- Carlinhos. Não irei castigá-lo, também não
permitirei que faça recuperação, porque suas notas durante o ano inteiro foram
muito baixas em quase todas as matérias. Quero que você passe de ano sim, mas
principalmente quero que aprenda a construir o seu aprendizado em bases
sólidas. Você repetirá o ano, porém, durante o período de férias, de segunda a
sexta feira você terá 4 horas diárias de reforço escolar.. Também terá que lê
de 15 em 15 dias, um livro de histórias.
Carlinhos, que estava em silêncio retrucou:
- Mamãe isso é castigo. E, sua mãe demonstrando
segurança na sua decisão, contestou:
- Não Carlos, isso é oportunidade de melhorar e
aprender a usar seu tempo com responsabilidade. O melhor que você faz agora é
correr a traz dos prejuízos causados por você mesmo.
Tenho certeza, mesmo que talvez, bem mais tarde,
irá me agradecer as deliberações de hoje.
Reflita
muito sobre o que eu lhe disse.
D. Mariana agradeceu a atenção e o respeito do
filho e com um beijo, dispensou-o e foi cuidar dos seus afazeres domésticos.
Carlinhos pensativo e um pouco contrariado com
as últimas determinações da mãe decidiu:
Vou tomar banho, de preferência frio. E com a
intenção de esfriar um pouco a cabeça entrou imediatamente no banheiro e se deparando
com espelho do armário, resolveu olhar seu rosto com atenção. Ficou perplexo
com a sua aparência. Aproximou-se mais um pouco e olhou com mais atenção,
notando pela primeira vez as transformações que passou o seu rosto sem ao menos
se dar conta, pois não tinha o hábito de se observar, chegando a seguinte
conclusão: Estou me transformando em um belo adolescente. Mamãe tem razão. Preciso realmente mudar de atitude, pois quem
sabe?... Em breve eu me interesse por uma garota de boa família e com de cabeça
centrada. Provavelmente ela não ia querer namorar comigo, por outro lado eu não
ia querer como namorada, uma garota “banda voou”. Deus é mais. Apesar da minha atitude
sempre meio irresponsável, intimamente eu condeno os que assim se comportam, e eu
não sou otário para continuar pisando na bola. Chega de ser vacilão.
Chega o encerramento das aulas, Carlinhos com
vergonha não aparece para pegar o resultado oficial. Essa é tarefa é claro,
fica por conta de D. Mariana.
Como era de
costume, a mãe de Carlinhos conversou com o esposo, a respeito das decisões
tomadas por ela e que conhecendo tão bem o seu companheiro tinha plena certeza
do seu apoio financeiro e moral, pois ele já a muito que delegara a tarefa de
acompanhar os filhos na educação doméstica e escolar. Cônscio do tempo
disponível e da capacidade de administrar da esposa e mãe concordou de imediato
com as resoluções tomadas.
D. Mariana só trabalhava um turno e isso é era fator
importante no desempenho familiar. Mãe dedicada e consciente dos seus deveres
aproveitava o máximo dessa facilidade.
Já o Sr.
Antônio, seu esposo, saia pela manhã para trabalhar e só retornando à noite
confortado e agradecido pela dedicação da companheira.
A família não
tinha muitos recursos e, embora os dois trabalhassem as despesas familiares não
eram pequenas, pois além de Carlinhos eles tinham mais dois filhos menores que
também estavam na escola, embora não descem trabalho para estudar e possuírem
excelentes notas, também significava custos.
D. Mariana e
seu Antonio, depois de conversarem em particular, optaram por fazer uma reunião
familiar para poder esclarecer e acertar alguns detalhes que implicariam em
grandes mudanças para todos.
A notícia
caiu como uma água fria sobre os demais: teriam que cortar passeios, festas de
aniversário e os comes e bebes semanais com os parentes mais próximos.
Esses momentos de integração eram especiais
para toda a família. Abrir mão deles significava muito sacrifício para todos.
De inicio, fizeram uma lista de itens que
seriam considerados supérfluos. Tudo isso a com participação de todos. Não foi
fácil, mais acabaram entrando em um harmonioso acordo.
O objetivo dos cortes no orçamento doméstico
era para que sobrasse dinheiro para o custeio do reforço escolar que seria dado
a Carlinhos durante as férias.
Diante da deliberação tomada houve um silêncio
mortuário, pois todos sabiam que deviam concordar e apoiar.
Dar apoio aos que se encontra em dificuldades, sempre
fora o lema da família, todos tinham o dever de colaborar principalmente em se
tratando de educação e isso tudo foi acertado com aquiescência dos
participantes.
Foi esclarecido também pela matrona, que o
reforço escolar não seria só durante férias e sim para próximo ano letivo, para
que o irmão fortalecesse as asas do conhecimento e daí pudesse voar alto e
seguro.
Carlinhos
sabia que estava recebendo um apoio extraordinário da família, oportunidade
única e valiosa, mas por outro lado teria que assumir queira ou não, a
responsabilidade de estudar e se esforçar, já aprender, seria a parte mais
fácil dessa empreitada. Pois só ele
intimamente sabia o quanto era capaz, mas só que era um pouco irresponsável e
relaxado. O julgavam inteligente, mas eles não imaginavam o quanto...
O tempo
transcorreu como esperavam. Todas as manhãs de segunda a sexta, Carlinhos,
embora de férias, tinha que acordar cedo para as aulas particulares de Matemática
e Português que seriem divididas em três etapas: Português (gramática) 1 hora e
30 minutos, descansava 30 minutos e mais
1 hora e 30 minutos de Matemática. No final da tarde mais 1 hora de aula de Português (redação).
Depois
das aulas era só alegria dizia sempre Carlinhos. Brincar e brincar muito. E
lembrando o que sempre ouvira sua avó dizer, repetia mentalmente “não adianta
chorar sobre o leite derramado”
O ruim
mesmo era ter que enfrentar a gozação dos companheiros todos os dias pelo fato
de estudar em pleno período de férias, mas o que fazer?... É o meu futuro que
está jogo. Dizia ele tirando onda com amigos querendo aparentar grande
maturidade. Intimamente lembrava-se dos dizeres que a sua avó sempre dizia, e intimamente
sarcástico, dizia para si mesmo “ajoelhou tem que rezar”, “quem foi para feira
perdeu a cadeira”, “escreveu não leu o pau comeu”, “quem planta vento colhe
tempestade” e, conformado com sua nova situação resolve esquecer o assunto e
aproveitar ao máximo o tempo que lhe resta.
O tempo foi
passando e Carlinhos foi se entusiasmando com as aulas do reforço. Altamente
vigiado e cobrado por todos não tinha oportunidade para nenhum vacilo o jeito
mesmo era estudar já que todos o apoiaram e também estão sendo sacrificados
pela sua incúria.
D. Mariana,
amante dos livros, levava os seus três filhos de 15 em 15 dias à Biblioteca
Pública para escolher um livro que seria lido por Carlinhos e os outros se quisessem
poderiam escolher também, pois estavam de férias e não era obrigado a fazê-lo.
Ela levava os três para incentivar a boa leitura e dava sempre certo. As
crianças sempre escolhiam belas histórias com a orientação é claro, da sábia
mãezinha que lia com entusiasmo.
As férias chegam ao fim.
No dia
anterior ao início das aulas D. Mariana, aproveitando presença de seu Antônio e
os três filhos, dirige-se a Carlinhos para fazer um alerta, sabendo de antemão
que seria útil para todos, e dirigindo-se ao filho começou a falar com empolgação:
- Carlinhos
você está crescendo, o tempo urge. Mais cedo ou mais tarde terá que trabalhar.
- O futuro se constrói no presente, e para ter
um bom emprego é preciso estar bem preparado emocionalmente e culturalmente.
E D. Mariana, freneticamente, continuava o seu discurso
doméstico com o objetivo de sensibilizar toda a sua família.
- Quando nos
referimos a um bom emprego nos vem logo em mente trabalhar numa boa empresa e
numa atividade que:
Nos agrade;
Que a
realizemos com competência;
Seja valorizada, respeitada;
Nos renda um
bom salário;
Num ambiente que trabalhe pessoas de boa índole
e bom nível cultural;
Num local fisicamente confortável.
- Atualmente,
em vários setores a procura é maior do que a oferta em virtude disso a
concorrência chega até ser gigantesca.
- O diploma é
muito importante e na maioria dos casos, tenho plena convicção de que é extremamente importante: 1º grau, 2º grau graduação no nível superior, pós graduação...
O que vai fazer realmente a diferença é o seu aprendizado, é a sua competência.
Ser e ter uma
família bem relacionada, ter conquistado um diploma de peso, pode ajudar muito
e em certos casos conseguir uma boa colocação, mas há sábio dito popular que
você deve sempre lembrar: “Quem não tem competência, não se estabelece”.
- Você já
teve oportunidade de ver divulgado nos telejornais, o n° de candidatos
disputando uma vaga. Imaginamos antecipadamente que a grande maioria não tem
nenhuma condição de ser aprovado e isso é uma triste realidade, porém, o número
de vagas é diminuto e o números de capacitados para as vagas é também muito além
das oferecidas.
- Quer ter nível superior?...
- Quer fazer vestibular numa Universidade pública?...
- Quer cursar
o nível superior numa faculdade particular?... E as mensalidades? Será que os
seus pais podem assumir?
- Gostaria de
ser um profissional liberal?...
- Um
administrador?...
- Ter seu
próprio negócio?... Como seria administrar o seu próprio negócio sem conhecê-lo
bem?... Sem saber lidar com a informática, sem dominar a interpretação de
texto, a redação, entender um pouco de psicologia, conhecer a matemática, lidar
com calculadoras financeiras...
Carlinhos
sorrindo, e todo entusiasmado, respondeu
prontamente.
- Mamãe eu sendo muito rico eu pago para
fazerem para mim.
- Carlinhos eu quero que você reflita
profundamente nesse dito popular: “O gado só engorda com o olho do dono”.
- E se o dono for cego?...
Carlinhos fez menção em responder mais o pai
que se mantinha calado interrompeu.
- Não, não, Carlinhos. Não queremos que você
responda agora e sim que guarde para os seus momentos de reflexão.
- Carlinhos.
- Sim mamãe.
- Você quer uma boa sugestão para ajudar nas
suas reflexões?
- Claro que eu quero mamãe!
- Então, vá à biblioteca, consulte os jornais antigos ou mesmo quem sabe?... Na
Internet, você irá encontrar publicações com relatos de pessoas que ganharam
verdadeiras fortunas, e que em um curto espaço de tempo ficaram pobres ou mesmo
sem nada.
1º dia de
aula – D. Mariana, a contragosto de Carlinhos, o acompanha para o seu primeiro
dia na escola com o principal objetivo de conhecer a coordenadora e a sua atual
professora, falar dos procedimentos que
teve com ele durante as férias, das
orientações dada e pedir para que o colocasse na primeira fila. Pediu também
com veemência que qualquer desvio de conduta, em sala de aula ou fora dela, a comunicassem
imediatamente, e que fossem bastante severa com ele, pois tinha certeza que
isso lhes faria um grande bem.
Em casa D.
Mariana reforçou a disciplina, porém ela reduziu pela metade, as aulas de
reforço escolar para que Carlinhos pudesse ter um tempo livre para
ver TV, brincar de bola, pega-pega ou jogar Vídeo Game. Os deveres escolares eram feitos fora das
aulas particulares de reforço e sendo
acompanhados cuidadosamente pela mãe de
Carlinhos que já não permitia a leitura silenciosa, obrigando-o a estudar em
voz alta para poder ter a certeza de que ele estava realmente lendo e
aproveitar também para corrigir a pronuncia das palavras
e orientá-lo na pontuação. Os deveres de casa eram feitos por ele
sozinho para que depois de prontos fossem corrigidos pela mãe juntamente com
ele.
Com toda essa
cobrança e assistência, Carlinhos que
era muito inteligente consegui dominar rapidamente os assuntos da primeira
unidade e foi tomando gosto pelos estudos, nenhuma matéria era desafio para
ele. Sempre querendo participar dos trabalhos escolares, chegou até a ser líder
de equipe, sempre atento, o primeiro a levantar mão esperando ser escolhido
para responder as perguntas que eram feitas pela professora em sala de aula. Na
volta do recreio ele era um dos primeiros a entrar na sala para esperar a
entrada da professora.
A primeira
unidade transcorreu melhor do que era esperado. Com o boletim nas mãos com
registros de notas excelentes, Carlinhos entra porta adentro, aos gritos de
alegria para que todos ouvissem:
- Mamãe eu consegui!... Eu consegui de verdade.
- Sou o maior! Agora ninguém me segura.
- Vou voar em buscado do conhecimento.
A alegria de
Carlinhos contagiou a todos, pois o amavam muito e sua vitória tinha um
significado todo especial.
Beijos, abraços choros de emoção. A felicidade
era geral e quando o papai chegou do trabalho também vibrou de emoção e entre
abraços e elogios convocou novamente a família para mais uma reunião, com
intuito de agradecer a Deus e ao apoio de toda a família, esclarecendo que essa
foi apenas o começo de uma série de outras vitórias, e que toda a família
deveria manter a mesma atitude responsável que fez valer este resultado
maravilhoso, vigiando sempre o comportamento para que nunca mais houvesse
repetência na família.
Carlinhos foi deitar, porém custou a dormir,
pois a felicidade era tanta que só vivenciada para poder acreditar e entender.
Como é
bom ser amado, como é bom estudar, freqüentar a escola, ler livros aprender,
ser respeitado valorizado e ainda de olhos abertos começou a sonhar com as
profissões que os estudos poderia lhe proporcionar. Serei um educador, um
médico, um escritor...
Carlinhos
dormiu feliz e ansioso para que o amanhã
chegasse, e logo pudesse desfrutar dos
loiros da vitória e compartilhar com
seus irmãos menores o seu aprendizado. Nilza Chagas de Amorim
FIM
Nilza Chagas de Amorim