O PRIMEIRO VOO - Contos da Vovó Dida.


                                                           O PRIMEIRO VÔO
                                                                           
Carlinhos era um menino que nos seus primeiros anos escolares não dava nenhum trabalho para estudar e até, era muito caprichoso na execução dos seus deveres, porém, com o passar do tempo, foi perdendo o interesse pelos estudos.
Não gostava mais de estudar, só que ele pensando ser muito esperto, nunca declarava o seu desinteresse pelos livros. Muito inteligente, mas, muito conversador e travesso.   Gozava boa saúde e tinha muita energia e, o interesse principal de Carlinhos passou a ser a constante brincadeira.
O tempo passava. Carlinhos não mudava. Excessivamente infantil fazia da vida uma constante brincadeira e nunca levava a sério seus deveres escolares.  Ele só pensava em aproveitar ao máximo a sua infância e que, segundo ele, se não fosse a constante reclamação dos seus pais e dos professores, a vida seria uma verdadeira maravilha.
 Sua mãe era quem mais sofria com o seu fraco desempenho na escola, sempre alerta, não perdia a oportunidade de aconselhá-lo. Vivia constantemente cobrando uma mudança de comportamento, pois sabia que na escola ele era muito conversador.
Carlinhos nunca respondia de maneira desrespeitosa a seus pais e professores e, no horário determinado para os estudos em casa, sempre estava a postos.
O tempo passava e ele não percebia que estava perdendo boas oportunidades de crescimento moral e intelectual e que com esse tipo de comportamento, se distanciava cada vez mais das oportunidades, gerando grande preocupação para seus pais e professores.
Certo dia, entediado com suas próprias ações, que sempre era motivo de reclamações, castigos e fraco desempenho escolar, passou a refletir sobre as suas atitudes.
- Poxa!  Eu sei que não sou burro, as pessoas que me conhecem até comentam que eu tenho uma inteligência privilegiada e uma capacidade inventiva muito grande, contudo, mal aproveitada.
- Quantas vezes eu ouvi na escola em que frequento os professores comentarem e até com certa admiração: “Esse garoto é tão inteligente, tão esperto, criativo, saudável, mas infelizmente não aproveita os dons que Deus lhes deu”.
E o garoto continuava com suas reflexões.
- Eu mesmo tenho observado que na minha turma existem colegas que possuem grande dificuldade em aprender, e mesmo assim eles insistem, perguntam, fazem, refazem, estudam, tiram boas notas, passam de ano e eu  muitas vezes fico para  traz sendo motivo até de chacota. Mas isso pouco importa, pois para mim é mais importante e mais agradável curtir a vida sempre brincando, cada vez mais e mais e mais. Todavia tem um fato que se repete em todo final de unidade, que é a entrega do boletim escolar com notas baixíssimas.  Isso sim, me incomoda bastante e provoca em mim vergonha e o receio de mais um castigo, e é por isso que eu o escondo assim que chego a casa. É a solução que sempre encontro, deixando para apresentá-lo em uma melhor hora, pois sei que não posso ocultá-lo por muito tempo. Certamente minha mãe cobraria, e o que seria pior era ela tomar as informações na própria escola e isso para mim estava fora de questão. Ai! Como é difícil a hora da verdade... Como seria bom se não existisse boletim.
  Depois de um bom tempo Carlinhos acabou dormindo, mas o seu sono não foi tranqüilo. Acordou  cansado, e logo lembrou do boletim. Imediatamente, sentiu um frio na barriga e se perguntou. O que está acontecendo comigo?... Pela primeira vez, apesar do cansaço físico, dormi muito tarde e por isso mesmo, acordei mais cansado do que nunca. Isso é mau.
Carlinhos teve pressa de ir para a escola. Temendo algum comentário, lá chegando, como sempre foi sentar-se no fundo da sala, meio largado, parecia estar numa sala de tv assistindo o seu programa favorito, esquecido por completo o motivo  da insônia.
O tempo foi passando e a conversa no fundo era animada e transcorria independente do assunto que a professora aplicava em sala. Quando o parceiro de conversa se cansava, ou resolvia prestar atenção à aula ele imediatamente providenciava outro parceiro para compactuar com seus interesses, ou melhor, dizendo, a sua falta de responsabilidade.
De vez em quando a professora o repreendia porque ele se entusiasmava facilmente com a conversa, e quando isso acontecia atrapalhava bastante a aula. De imediato era convidado a ficar calado. Logo após o ocorrido, ele simplesmente baixava o tom de voz para não despertar atenção, e continuava o seu bla, bla, bla, esquecido completamente do motivo que lhe tinha tirado o sono.
O sino toca, é hora do recreio, ansioso para brincar, Carlinhos é o primeiro a se levantar e ir direto para a área de recreação gritando para todos ouvir: Vamos galera!  Agora  é só alegria.
 Carlinhos aproveita o máximo do tempo disponível, brincando de bola, pega-pega e outras brincadeiras ocasionais. Quase não sobrava tempo para o lanche. Só não comia na sala porque era proibido. Quando um dos alunos infligia as regras, segundo ele, era severamente castigado, pelo simples fato de estar com muita fome, mas as ordens eram claras e se fossem desobedecidas, no próximo dia de aula ficaria sem recreio. Em vista disso, o aluno teria tempo suficiente para degustar o seu lanche. Que horror!... Pra que tudo isso?... Diante dessas arbitrariedades ele concluía que não valia a pena vacilar, e decide que o melhor para ele era comer o lanche primeiro e depois brincar a vontade pois era o que ele mais gostava. Todos queriam com ele brincar. Com uma imaginação fértil, e bem relacionado com a turma, nas brincadeiras era sempre o líder e a disputa pela sua companhia era também muito grande não importando o sexo.
Novamente o sino toca.
Sujo, e suado, Carlinhos é o ultimo entrar na sala e sua atitude é sempre a mesma.
Os dias transcorrem sem nenhuma alteração. Sua mãe constantemente preocupada põe Carlinhos para estudar. Sempre muito dedicada e atenciosa ela incansavelmente procura ajudar o filho nas tarefas escolares, tentando minorar as suas dificuldades que eram conseqüentemente geradas pela conversa constante em sala de aula.
Como é de costume, Carlinhos diz que tem pouco dever de casa e por insistência da mãe pega o livro para ler mais os seus pensamentos estão bem distantes do seu conteúdo, porém quem o vê, pensa que ele está lendo com dedicação. É pura aparência, porque quando a sua mãe vem tomar a lição, é uma decepção, pois Carlinhos nada sabe e Dona Mariana muito calma insiste para que ele leia novamente e com mais atenção.
Enquanto isso, num momento de profunda reflexão D. Mariana diz a se mesma: Carlinhos passa mais horas estudando do que os outros irmãos. Coitadinho, está com dificuldade de memorização. E com expressão muito triste, olha para o alto, faz uma breve oração à meia voz. – Senhor nosso Pai, ajuda o meu menino a aprender as lições escolares. Preocupada e com o coração cheio de esperança, ela resolve ler para ele, dando ênfase a alguns trechos do texto com a intenção de despertar um interesse maior, num esforço hercúleo para que ele consiga absorver um pouco do conteúdo. Depois de um bom tempo, ela pede para que ele leia em voz alta, para que com isso facilite a sua concentração e aprendizado, o que melhorou bastante.  Mas o que ela não sabia, era  que na leitura silenciosa o garoto só estava fingindo que lia com atenção, pois na verdade a sua cabeça estava naquela sala, mais a sua mente estava em outras paragens, e quando  a sua maravilhosa mãezinha aplicava o questionário,  logo constatava que ele nada sabia.
Após a desgastante tarefa de acompanhar Carlinhos nos estudos, condoída com as dificuldades do filho, lembra-se do boletim, e imediatamente solicita ao filho. Prontamente Carlinhos percebendo que é o momento ideal, aproveitando da fraqueza emocional da mamãe, levanta-se e corre para buscá-lo e o apresenta cabisbaixo, o seu feio Boletim Escolar.
Sua mãe abre e verifica a triste situação do filho. Triste, mas não surpreendida com as notas incrivelmente baixas, e que, pelo andar da carruagem, ela sabia que o filho teria que repetir mais um ano, pois não havia como recuperá-lo em tão curto espaço de tempo.
Carlinhos para quebrar o efeito que as notas causaram, entusiasticamente promete a mãe que não írá para a recuperação e, com esforço com certeza passaria de ano. Mas, sua mãe que já tinha visto o filho viver essa experiência,  falou com rispidez pouco comum.
- Não basta passar de ano, é preciso ter uma boa base, para que a série que irá cursar seja com pouca ou nenhuma dificuldade.
- Carlinhos. Já disse para você muitas vezes e torno a repetir. É preciso estudar com vontade de aprender.
Não adianta você passar para cálculos mais avançados se não consegue fazer os mais fáceis. Por exemplo:
 Na Matemática. Como você pode fazer as quatro operações se não domina a tabuada, resolver um problema com Regra de Três Simples ou Composta ou qualquer outro problema, se não dominar as operações por ele solicitadas. O mesmo ocorre com o Português:
Para ler e entender é preciso dominar o Alfabeto, os Fonemas as Sílabas, (oxítona, paroxítona e proparoxítona), os Encontros Vocálicos, (ditongo, tritongo e hiato), os encontros consonantais, acentuação gráfica, a Formação das palavras (derivação, composição), a Classificação das Palavras, (substantivo, artigo, adjetivo, numeral, pronome verbo...).
E para fazer uma boa redação?...
Pois é. Na hora de contar uma história, fazer uma carta uma solicitação, um relatório... Como redigir corretamente?... E os significados das palavras?... Você já parou para refletir na importância do significado das palavras, de se fazer entender, querer uma determinada coisa e solicitá-la de maneira correta para não haja enganos.
Não podemos construir um bom aprendizado pulando etapas, trocando letras, “levando gato por lebre”.
Carlinhos ficou mudo, e até muito preocupado com as observações feitas pela sua mãe, sabia que ela tinha total razão nas suas observações, pois já estava vivenciando há muito, as dificuldades que ela acabara de relatar. Por isso não ousou em momento algum interrompê-la e por outro lado, estava estupefato, com as informações e o conhecimento que sua mãe demonstrara. Orgulhoso do que presenciara e  agradecido pela aquela chamada a realidade, e com o coração repleto de amor e  admiração, num  ímpeto, beijou, abraçou agradecido das  sábias palavras que há pouco ouvira.
Mariana, com os olhos marejados de lágrimas e controlando a forte emoção que o seu querido filho lhe proporcionava, abraçando-o com o amor que só as mães sabem sentir, e ainda admirada com a reação de Carlinhos, que em outras oportunidades não lhe dava a chance de expressar as suas convicções com tanta facilidade, pois quando isso acontecia, ele a interrompia várias vezes, dizendo: Já sei, já sei já sei de tudo, e com impaciência e irreflexão.
Contrariada, a mãe ralhava com o filho por causa dos seus maus modos e ele imediatamente pedia desculpas e com disfarçado objetivo de encerrar a conversa, para ela afirmava: Vou estudar, vou tirar boas notas, vou melhorar, pode acreditar em mim mamãe. Esperançosa, com suas afirmativas pedia a Deus que o protegesse.
  Hoje foi diferente, pensou. - Carlinhos não estava simplesmente calado, sei que ele estava principalmente me ouvindo e absorvendo cada palavra por mim pronunciada e sem demonstrar como em outras vezes, impaciência e descaso. E falando consigo mesmo: - Mariana seu filho já começou a amadurecer, tens que aproveitar o campo fértil e plantar saudáveis sementes. E, para não perder a abençoada oportunidade, depois de um longo abraço, repleto de amor e entre profundas reflexões, afastou o filho carinhosamente e olhando dentro dos seus olhos disse:
- Carlinhos. Não irei castigá-lo, também não permitirei que faça recuperação, porque suas notas durante o ano inteiro foram muito baixas em quase todas as matérias. Quero que você passe de ano sim, mas principalmente quero que aprenda a construir o seu aprendizado em bases sólidas. Você repetirá o ano, porém, durante o período de férias, de segunda a sexta feira você terá 4 horas diárias de reforço escolar.. Também terá que lê de 15 em 15 dias, um livro de histórias.
Carlinhos, que estava em silêncio retrucou:
- Mamãe isso é castigo. E, sua mãe demonstrando segurança na sua decisão, contestou:
- Não Carlos, isso é oportunidade de melhorar e aprender a usar seu tempo com responsabilidade. O melhor que você faz agora é correr a traz dos prejuízos causados por você mesmo.
Tenho certeza, mesmo que talvez, bem mais tarde, irá me agradecer as deliberações de hoje.
 Reflita muito sobre o que eu lhe disse.
D. Mariana agradeceu a atenção e o respeito do filho e com um beijo, dispensou-o e foi cuidar dos seus afazeres domésticos.
Carlinhos pensativo e um pouco contrariado com as últimas determinações da mãe decidiu:
Vou tomar banho, de preferência frio. E com a intenção de esfriar um pouco a cabeça entrou imediatamente no banheiro e se deparando com espelho do armário, resolveu olhar seu rosto com atenção. Ficou perplexo com a sua aparência. Aproximou-se mais um pouco e olhou com mais atenção, notando pela primeira vez as transformações que passou o seu rosto sem ao menos se dar conta, pois não tinha o hábito de se observar, chegando a seguinte conclusão: Estou me transformando em um belo adolescente. Mamãe tem razão.  Preciso realmente mudar de atitude, pois quem sabe?... Em breve eu me interesse por uma garota de boa família e com de cabeça centrada. Provavelmente ela não ia querer namorar comigo, por outro lado eu não ia querer como namorada, uma garota “banda voou”. Deus é mais. Apesar da minha atitude sempre meio irresponsável, intimamente eu condeno os que assim se comportam, e eu não sou otário para continuar pisando na bola. Chega de ser vacilão.

Chega o encerramento das aulas, Carlinhos com vergonha não aparece para pegar o resultado oficial. Essa é tarefa é claro, fica por conta de D. Mariana.
         Como era de costume, a mãe de Carlinhos conversou com o esposo, a respeito das decisões tomadas por ela e que conhecendo tão bem o seu companheiro tinha plena certeza do seu apoio financeiro e moral, pois ele já a muito que delegara a tarefa de acompanhar os filhos na educação doméstica e escolar. Cônscio do tempo disponível e da capacidade de administrar da esposa e mãe concordou de imediato com as resoluções tomadas.
D. Mariana só trabalhava um turno e isso é era fator importante no desempenho familiar. Mãe dedicada e consciente dos seus deveres aproveitava o máximo dessa facilidade.
 Já o Sr. Antônio, seu esposo, saia pela manhã para trabalhar e só retornando à noite confortado e agradecido pela dedicação da companheira.
         A família não tinha muitos recursos e, embora os dois trabalhassem as despesas familiares não eram pequenas, pois além de Carlinhos eles tinham mais dois filhos menores que também estavam na escola, embora não descem trabalho para estudar e possuírem excelentes notas, também significava custos.
         D. Mariana e seu Antonio, depois de conversarem em particular, optaram por fazer uma reunião familiar para poder esclarecer e acertar alguns detalhes que implicariam em grandes mudanças para todos.
         A notícia caiu como uma água fria sobre os demais: teriam que cortar passeios, festas de aniversário e os comes e bebes semanais com os parentes mais próximos.
Esses momentos de integração eram especiais para toda a família. Abrir mão deles significava muito sacrifício para todos.
         De inicio, fizeram uma lista de itens que seriam considerados supérfluos. Tudo isso a com participação de todos. Não foi fácil, mais acabaram entrando em um harmonioso acordo.
O objetivo dos cortes no orçamento doméstico era para que sobrasse dinheiro para o custeio do reforço escolar que seria dado a Carlinhos durante as férias.
Diante da deliberação tomada houve um silêncio mortuário, pois todos sabiam que deviam concordar e apoiar.
Dar apoio aos que se encontra em dificuldades, sempre fora o lema da família, todos tinham o dever de colaborar principalmente em se tratando de educação e isso tudo foi acertado com aquiescência dos participantes.
Foi esclarecido também pela matrona, que o reforço escolar não seria só durante férias e sim para próximo ano letivo, para que o irmão fortalecesse as asas do conhecimento e daí pudesse voar alto e seguro.
         Carlinhos sabia que estava recebendo um apoio extraordinário da família, oportunidade única e valiosa, mas por outro lado teria que assumir queira ou não, a responsabilidade de estudar e se esforçar, já aprender, seria a parte mais fácil dessa empreitada.  Pois só ele intimamente sabia o quanto era capaz, mas só que era um pouco irresponsável e relaxado. O julgavam inteligente, mas eles não imaginavam o quanto...
         O tempo transcorreu como esperavam. Todas as manhãs de segunda a sexta, Carlinhos, embora de férias, tinha que acordar cedo para as aulas particulares de Matemática e Português que seriem divididas em três etapas: Português (gramática) 1 hora e 30 minutos, descansava 30 minutos e  mais 1 hora e 30 minutos de Matemática. No final da tarde mais 1 hora de  aula de Português (redação).
 Depois das aulas era só alegria dizia sempre Carlinhos. Brincar e brincar muito. E lembrando o que sempre ouvira sua avó dizer, repetia mentalmente “não adianta chorar sobre o leite derramado”
 O ruim mesmo era ter que enfrentar a gozação dos companheiros todos os dias pelo fato de estudar em pleno período de férias, mas o que fazer?... É o meu futuro que está jogo. Dizia ele tirando onda com amigos querendo aparentar grande maturidade. Intimamente lembrava-se dos dizeres que a sua avó sempre dizia, e intimamente sarcástico, dizia para si mesmo “ajoelhou tem que rezar”, “quem foi para feira perdeu a cadeira”, “escreveu não leu o pau comeu”, “quem planta vento colhe tempestade” e, conformado com sua nova situação resolve esquecer o assunto e aproveitar ao máximo o tempo que lhe resta.
         O tempo foi passando e Carlinhos foi se entusiasmando com as aulas do reforço. Altamente vigiado e cobrado por todos não tinha oportunidade para nenhum vacilo o jeito mesmo era estudar já que todos o apoiaram e também estão sendo sacrificados pela sua incúria.
         D. Mariana, amante dos livros, levava os seus três filhos de 15 em 15 dias à Biblioteca Pública para escolher um livro que seria lido por Carlinhos e os outros se quisessem poderiam escolher também, pois estavam de férias e não era obrigado a fazê-lo. Ela levava os três para incentivar a boa leitura e dava sempre certo. As crianças sempre escolhiam belas histórias com a orientação é claro, da sábia mãezinha  que lia com entusiasmo.

As férias chegam ao fim.
         No dia anterior ao início das aulas D. Mariana, aproveitando presença de seu Antônio e os três filhos, dirige-se a Carlinhos para fazer um alerta, sabendo de antemão que seria útil para todos, e dirigindo-se ao filho começou a falar com empolgação:
         - Carlinhos você está crescendo, o tempo urge. Mais cedo ou mais tarde terá que trabalhar.
- O futuro se constrói no presente, e para ter um bom emprego é preciso estar bem preparado emocionalmente e culturalmente.
E D. Mariana, freneticamente, continuava o seu discurso doméstico com o objetivo de sensibilizar  toda a sua família.
         - Quando nos referimos a um bom emprego nos vem logo em mente trabalhar numa boa empresa e numa atividade que:

          Nos agrade;
 Que a realizemos com competência;
Seja valorizada, respeitada;
         Nos renda um bom salário;
Num ambiente que trabalhe pessoas de boa índole e bom nível cultural;
Num local fisicamente confortável.

         - Atualmente, em vários setores a procura é maior do que a oferta em virtude disso a concorrência chega até ser gigantesca.
         - O diploma é muito importante e na maioria dos casos, tenho plena convicção de que é  extremamente importante: 1º grau, 2º grau  graduação no nível superior, pós graduação... O que vai fazer realmente a diferença é o seu aprendizado, é a sua competência.
         Ser e ter uma família bem relacionada, ter conquistado um diploma de peso, pode ajudar muito e em certos casos conseguir uma boa colocação, mas há sábio dito popular que você deve sempre lembrar: “Quem não tem competência, não se estabelece”.
         - Você já teve oportunidade de ver divulgado nos telejornais, o n° de candidatos disputando uma vaga. Imaginamos antecipadamente que a grande maioria não tem nenhuma condição de ser aprovado e isso é uma triste realidade, porém, o número de vagas é diminuto  e o números de  capacitados para as vagas é também muito além das oferecidas.
         - Quer ter nível superior?...
- Quer fazer vestibular numa Universidade pública?...
         - Quer cursar o nível superior numa faculdade particular?... E as mensalidades? Será que os seus pais podem assumir? 
         - Gostaria de ser um profissional liberal?...
         - Um administrador?...
         - Ter seu próprio negócio?... Como seria administrar o seu próprio negócio sem conhecê-lo bem?... Sem saber lidar com a informática, sem dominar a interpretação de texto, a redação, entender um pouco de psicologia, conhecer a matemática, lidar com calculadoras financeiras...
         Carlinhos sorrindo, e todo  entusiasmado, respondeu prontamente.
- Mamãe eu sendo muito rico eu pago para fazerem para mim.
- Carlinhos eu quero que você reflita profundamente nesse dito popular: “O gado só engorda com o olho do dono”.
- E se o dono for cego?...
Carlinhos fez menção em responder mais o pai que se mantinha calado interrompeu.
- Não, não, Carlinhos. Não queremos que você responda agora e sim que guarde para os seus momentos de reflexão.
- Carlinhos.
- Sim mamãe.
- Você quer uma boa sugestão para ajudar nas suas reflexões?
- Claro que eu quero mamãe!
- Então, vá à biblioteca, consulte os  jornais antigos ou mesmo quem sabe?... Na Internet, você irá encontrar publicações com relatos de pessoas que ganharam verdadeiras fortunas, e que em um curto espaço de tempo ficaram pobres ou mesmo sem nada.

         1º dia de aula – D. Mariana, a contragosto de Carlinhos, o acompanha para o seu primeiro dia na escola com o principal objetivo de conhecer a coordenadora e a sua atual professora, falar dos  procedimentos que teve com ele durante as  férias, das orientações dada e pedir para que o colocasse na primeira fila. Pediu também com veemência que qualquer desvio de conduta, em sala de aula ou fora dela, a comunicassem imediatamente, e que fossem bastante severa com ele, pois tinha certeza que isso lhes faria um grande bem.

         Em casa D. Mariana reforçou a disciplina, porém ela reduziu pela metade, as aulas de reforço escolar para que Carlinhos  pudesse ter um tempo  livre para  ver TV, brincar de bola, pega-pega ou jogar Vídeo Game.  Os deveres escolares eram feitos fora das aulas particulares de reforço e  sendo acompanhados  cuidadosamente pela mãe de Carlinhos que já não permitia a leitura silenciosa, obrigando-o a estudar em voz alta para poder ter a certeza de que ele estava realmente lendo e aproveitar também para corrigir a pronuncia  das palavras  e orientá-lo na pontuação. Os deveres de casa eram feitos por ele sozinho para que depois de prontos fossem corrigidos pela mãe juntamente com ele.
         Com toda essa cobrança e assistência, Carlinhos  que era muito inteligente consegui dominar rapidamente os assuntos da primeira unidade e foi tomando gosto pelos estudos, nenhuma matéria era desafio para ele. Sempre querendo participar dos trabalhos escolares, chegou até a ser líder de equipe, sempre atento, o primeiro a levantar mão esperando ser escolhido para responder as perguntas que eram feitas pela professora em sala de aula. Na volta do recreio ele era um dos primeiros a entrar na sala para esperar a entrada da professora.

         A primeira unidade transcorreu melhor do que era esperado. Com o boletim nas mãos com registros de notas excelentes, Carlinhos entra porta adentro, aos gritos de alegria para que todos ouvissem:
- Mamãe eu consegui!... Eu consegui de verdade. - Sou o maior! Agora ninguém me segura.
- Vou voar em buscado do conhecimento.
         A alegria de Carlinhos contagiou a todos, pois o amavam muito e sua vitória tinha um significado todo especial.
Beijos, abraços choros de emoção. A felicidade era geral e quando o papai chegou do trabalho também vibrou de emoção e entre abraços e elogios convocou novamente a família para mais uma reunião, com intuito de agradecer a Deus e ao apoio de toda a família, esclarecendo que essa foi apenas o começo de uma série de outras vitórias, e que toda a família deveria manter a mesma atitude responsável que fez valer este resultado maravilhoso, vigiando sempre o comportamento para que nunca mais houvesse repetência na família.
Carlinhos foi deitar, porém custou a dormir, pois a felicidade era tanta que só vivenciada para poder acreditar e entender.
 Como é bom ser amado, como é bom estudar, freqüentar a escola, ler livros aprender, ser respeitado valorizado e ainda de olhos abertos começou a sonhar com as profissões que os estudos poderia lhe proporcionar. Serei um educador, um médico, um escritor...
         Carlinhos dormiu feliz e ansioso  para que o amanhã chegasse, e logo pudesse  desfrutar dos loiros da vitória  e compartilhar com seus irmãos menores o seu aprendizado. Nilza Chagas de Amorim
  FIM 

Nilza Chagas de Amorim
 
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