Estrela Da Manhã
Nilza Chagas de Amorim
Ana sempre foi uma criança muito travessa e cheia de energia. Seu sorriso era farto e contagiante, seu modo positivo encarar a vida era a grande chave da sua alegria. Ela sabia que para estar de bem com vida era necessário promover sempre que possível o bem estar das pessoas.
Ana antes de dormir tinha um belo costume, apoiada no seu travesseiro macio, aproveitava desse momento valioso de descanso para dedicar alguns minutos a reflexão e aos sonhos, e um dos seus sonhos mais fantásticos e favoritos era o que ela chamava de reverso do efeito dominó. Era assim:
Ana imaginava como o mundo seria ainda mais maravilhoso se a grande maioria, voltada para o bem comum, conseguisse em uníssono, levantar com a força da energia contagiante do pensamento, os abatidos pelo sofrimento, pela desesperança e pela falta de fé em um mundo melhor, construído com a participação ativa e constante do ser humano, gerado por uma força de atração poderosa para frente e para o alto. Ana, com a mente povoada por nobres pensamentos, logo adormecia.
Amanhece, e o sol é um convite irresistível para vida. E com alegria que lhe era peculiar, forrava a cama, escovava os dentes, penteava os cabelos, e ia pé antepé, fazer o mingau da vovó, e só depois de servi-lo com carinho, ia preparar o seu café, pois logo cedo queria estar na escola, porque antes das aulas começarem ela queria conversar com o maior número de colegas possível para que na hora da aula o tempo fosse todo dedicado ao seu aprendizado. E era por isso que Ana acordava muito cedo.
Logo depois de lavar os pratos do café, se despedia da avó com um beijo e afetuoso abraço, pegava sua bicicleta e partia feliz para mais uma jornada escolar.
Ana era sempre assim, cheia de energia e força de vontade, na escola ia sempre bem com estudos, pois sabia dividir o seu tempo entre deveres e diversão sem deixar um, invadir o espaço do outro e também não gostava de pensar nas coisas tristes apesar de ter sofrido muito com a morte da mãe, sabia que não adiantaria “chorar sobre o leite derramado” e não pretendia questionar a sabedoria do Criador. O que passou, passou o importante para ela, era viver o presente da melhor maneira possível, construindo um futuro melhor para todos.
Sua avó a acompanhava com os olhos até Ana desaparecer no fim da rua, dobrando sempre a mesma esquina e por isso presenciava as manobras radicais que costuma fazer com sua bicicleta. e apesar de ser uma rua sem movimento de carros e poucos passantes principalmente naquele horário, havia sempre o perigo de Ana cair e se machucar e as conseqüências não seriam nada agradáveis.
Sua avó sempre dizia:
- Te aquieta Aninha. Toma cuidado para não cair!...
- Vá mais devagar.
E a Aninha já estava bem distante para ouvir o que a vovó dizia.
- Eta! Menina travessa. Parece que tem outra por dentro.
- Essa menina não para. E dizendo isso, entrava sorrindo.
Ana tinha inúmeros apelidos. Porém, todos sempre carinhosos. Amiga de todos que dela se aproximava, atendia aos chamados com grande alegria, satisfação, sempre prestativa, atenciosa educada e carinhosa, não perdia a oportunidade de falar da importância de estudar e de sempre comentar as maravilhosas histórias que lia nos livros que tomava emprestado na biblioteca do colégio.
- Experimentem. Dizia Ana toda entusiasmada.
- Vamos fazer uma visita à biblioteca. Lá tem livros para todos os gostos, e histórias fantásticas. Acreditem. Não custam absolutamente nada.
- Vamos!... Vocês não sabem o que estão perdendo. É um mundo de sonhos e conhecimentos. É viajar sem sair do lugar.
Com todo esse entusiasmo, Ana acabava sempre contagiando alguém, e se isso não acontecesse de imediato, ela sabia que tinha plantado uma semente, e era só regar com paciência e cuidado que o resultado um dia apareceria.
De bem com a vida, o seu jeito faceiro a todos encantava.
Todos? ...
Aninha foi crescendo, e enriquecendo sempre o seu poder de observação e aprendizado e, apesar da peraltice salutar, do corre e corre, do pega-pega, da gargalhada fácil, não se descuidava de cultivar bons sentimentos, principalmente o respeito ao próximo e a preocupação sempre constante com bem estar social. Para ela era impossível ser totalmente feliz se em sua volta percebesse rostinhos aborrecidos, angustiados ou tristes.
Sua avó que a conhecia como ninguém, em atitude reflexiva, sempre murmurava com satisfação:
- Garota precoce... Feliz daquele que desfruta da sua adorável companhia.
Aninha vivia numa cidade pequena e acolhedora, cercada de amigos de todas as idades. Era sempre bom tê-la por perto, pois constantemente atuava como um ser multiplicador da alegria e da paz. Na escola, era um sucesso. Sempre acompanhada de uma boa turminha, antenada, não só com boas brincadeiras, mas como também com os problemas e bem estar dos seus coleguinhas.
Como acontece em todas as comunidades, essa em que vivia, tinha gente de todos os tipos de sentimentos e temperamentos. E como era de se esperar a escola na qual Aninha estudava não era diferente.
“Uma comunidade menor dentro de uma comunidade maior”. Era assim que aninha entendia a sua escola.
- Pasmem!
Alguns integrantes dessa comunidade eram até bem calmos. Outros, porém: afobados, introvertidos, extrovertidos, egoístas, altruístas e até um pouco rude, e isso Aninha tirava de letra, pois desde pequena ela sempre procurava aprender e aplicar os ensinamentos e conselhos de sua sábia vovó.
Ana tinha perdido a mamãe muito cedo teve a oportunidade de ser criada por uma pessoa maravilhosamente humana, que não perdia a oportunidade de orientá-la com seus conselhos e exemplos que muito lhe ensinou na arte de viver e conviver as diferenças, e ela, que sempre fora inteligente, antenada com o bem, não perdia a oportunidade de aprender e exercitar o respeito aos limites de cada um, tendo plena consciência que as diferenças são fatores importantes a ser trabalhado numa comunidade emocionalmente heterogenia, e isso servia sempre de exercício para o seu auto conhecimento, auto controle e progresso como ser social.
Ana tinha perdido a mamãe muito cedo teve a oportunidade de ser criada por uma pessoa maravilhosamente humana, que não perdia a oportunidade de orientá-la com seus conselhos e exemplos que muito lhe ensinou na arte de viver e conviver as diferenças, e ela, que sempre fora inteligente, antenada com o bem, não perdia a oportunidade de aprender e exercitar o respeito aos limites de cada um, tendo plena consciência que as diferenças são fatores importantes a ser trabalhado numa comunidade emocionalmente heterogenia, e isso servia sempre de exercício para o seu auto conhecimento, auto controle e progresso como ser social.
Na sala onde nossa amiguinha estudava, existia uma garota que parecia estar sempre de mal com vida. Mantinha uma expressão carrancuda e sempre mal humorada. Irritava-se com facilidade e, com receio de contraia-la, a turma, dela se afastava e o resultado disso, para ela era uma constante solidão mesmo estando no meio de uma multidão.
Qualquer tentativa de aproximação para tirá-la dessa situação era uma grande decepção, pois era preciso muito esforço para não gerar confusão, e com Aninha, provavelmente não seria diferente.
Toda vez que Aninha se aproximava feliz, a solitária Janete mal humorada como sempre lhes virava as costas, fingindo ignorá-la.
Aninha insistia, logo era maltratada.
Triste a situação de Janete. Ccertamente com carência de entendimento precisando muito de paciência e compreensão.
Um dia depois de ter pensado muito no isolamento da coleguinha. Aninha resolveu mudar a tática de aproximação. Mas como?...
Preocupada, lembrou-se das sábias palavras da sua avó.
“ Aninha! cada pessoa tem um jeito especial de ser e de ver a vida, por isso mesmo precisamos respeitar as suas idéias e os seus momentos, sem nos deixar envolver ou influenciar pelas coisas que acreditamos serem negativas, contornando-as sempre que possível, e com sutileza deixar o nosso exemplo carinhoso, com muito cuidado para não ferirmos os sentimentos alheios, deixando a nossa marca de amizade, fazendo com que acreditem que somos parte de um todo perante o Criador, e que, sempre que possível contarão conosco. É muito bom viver em comunidade, acreditando que sempre vale a pena ter esperança, brincar ou trabalhar em conjunto reforçando ou mesclando os nossos ideais para que com isso, todos saiam ganhando no processo evolutivo do ser.
- Todos os contatos pessoais, principalmente os mais difíceis resultam sempre em grande aprendizado para nós, mesmo que não gerem resultados imediatos, acabam sempre por germinar poderosas sementes que cedo ou quem sabe? Um pouco mais tarde, produzam bons frutos.
Essa luz do crescimento Interior brilhará com o constante exercício no bem, que inevitavelmente potencializará e se manterá acesa indefinidamente.
No recreio, hora em que todas as crianças estão distraídas com as próprias brincadeiras e conversações, depois de refletir muito sobre o assunto, Aninha resolveu ir ao encontro de Janete. Não desistiria facilmente, era mais um desafio, certamente, mas, pensou com seus botões – Os desafios existem para serem transpostos, tentaria mais uma vez, e outra e outra e outra...
Lutar pelo o que é nobre, vale a pena. Vencendo, terei ganhado uma batalha, ou quem sabe?... A guerra, contra o sofrimento que com certeza tem sido gerado ou ampliado por esse afastamento propositado.
Talvez, Janete mantenha esse comportamento tão ante-social, por não conhecer outro meio satisfatório de agir, e, para ela funcione como instrumento de defesa mal orientado. Seja qual for às razões que a levaram ter esse tipo comportamento, o importante no momento é tentar ajudá-la.
O ser humano é essencialmente social, foi criado para viver em grupo. Sorrir as alegrias, chorar as tristezas, apoiar e ser apoiado. Ninguém vive feliz na solidão, precisamos um do outro. Somos um ser social, afirmou a si mesmo. E pensando assim, foi ao encontro de Janete.
Aninha durante o percurso lembrou que alguns dos seus amigos, dentre outros apelidos, a chamavam de Estrela da manhã, e era assim que alguns sinceramente a consideravam. Tanto que foi feito para ela, uns versinhos carinhosos e, apesar de achar que nãoera merecedora de tamanha honra, ela, mentalmente começou a recita-los imensamente agradecida:
- Estrela da manhã,
Vem comigo brincar.
Dê-me a graça do seu sorriso,
Para que eu possa mais amar;
Estrela da manhã.
De todas, as mais belas.
Vem fazer do nosso dia,
Uma maravilhosa aquarela.
Com o objetivo de fazer brilhar a luz do coração de Janete, sentindo a leveza que só o sentimento de amor pelo próximo pode produzir no nosso ser, Ana foi à luta, a nossa pequena estrela, que, semelhante à atitude maravilhosa do Sol, foi doar os seus pequenos, mas, eficientes raios luminosos, a um coração, triste, desalentado ou mesmo, quem sabe? Revoltado. Partiu para abençoado objetivo.
Mas, antes de aproximar-se de Janete, Aninha respirou fundo, pediu ajuda ao Criador, e controlando o seu jeito faceiro, discretamente se aproximou, com tamanha suavidade que a Janete desarmou.
Com o sorriso nos lábios, e de olhar meigo e sincero, foi recitando com vontade as estrofes desses versos:
Janete!
Você que tem lindos olhos,
Cabelos sedosos como a seda,
Pretos como uma pantera,
E bochechas de princesa.
Agradeça ao criador
Que te ilumina com a suave beleza.
Não te deixes abater
Nas armadilhas da tristeza;
O Sol, o nosso astro-rei.
Que nos aquece e ilumina,
Sugere que venha
Para perto de nós,
Oh! Graciosa menina;
E aproveite a vida
Com satisfação.
Pois o tempo passa
muito rápido,
muito rápido,
E não tem volta, não;
Agarre a oportunidade
De viver nessa comunidade.
Solidão ninguém merece.
O bom mesmo seria viver
Sem nenhum estresse.
Janete caiu em prantos, e era de abalar qualquer coração, e Aninha com sabedoria não interrompeu essa manifestação, pois sabia do grande bem que faria ao seu outrora trancado coração.
Janete chorou, chorou, chorou...
Apesar da estranha situação, ninguém se aproximou. Confiando em Aninha que fazia tudo com muito amor não constrangendo a coleguinha que aparentemente desmoronou. Mas, isso só foi impressão, pois o grande passo foi dado por aquele sofrido coração que se mantinha trancado para vida numa dolorosa ilusão.
Janete depois extravasar a grande emoção contida nesse sofrido coração ficou com uma expressão confiante e suave, e lentamente com os olhos brilhantes de emoção resolveu com gratidão abrir o seu dolorido coração.
Janete parecia outra pessoa, tranqüila e falante, sem medo começou a relatar seu drama íntimo:
- Eu queria me manter longe de tudo e de todos apenas por proteção.
- A alegria das pessoas me incomodava, a vida para mim não tinha graça o mundo era uma grande aberração.
Janete suspirou profundamente e, continuou a dolorosa narração...
- Minha mãe morreu cedo me deixando sem irmãos e meu pai não entendia a dor que eu sentia com a inesperada grande separação e com o passar do tempo, para meu maior desespero me arranjou uma madrasta e isso me casou grande revolta e imensa frustração, achei que o papai cometera uma grande traição com a memória da mamãe e por isso não me conformo com essa situação, e agora que ele tem mais dois filhos reduziu muito, a sua atenção, para piorar, minha madrasta diz todos os dias que não tempo para a minha rebeldia.
- Isolo-me por mágoa e pura pirraça. Só quero ficar sozinha e não quero participar desse lar sem a minha querida mãezinha.
- Eles não entendem, pensam que é só por ciúmes do meu pai e também dos meus irmãos e quando estou em casa o que mais tem é reclamação.
- Ouço sempre, mas não dou atenção, que é bem melhor aceitar a vida que Deus nos deu e viver em comunhão, isso não me interessa, pois é só tapeação.
- Janete. Sofrimentos sempre existem e por muito tempo existirá, isso faz parte da vida, pois estamos em evolução. Erros todos cometem mesmo sem intenção precisamos vigiar os nossos pensamentos e atos, com muito cuidado, nesse mundo conturbado, repleto para não ocorra repetição.
- Somos responsáveis por nossos erros e eles precisam de uma séria reparação.
Construímos a nossa própria história. Decidimos a nossa própria vida. A Paz depende de como conduzimos as nossas vidas.
Isolar-se, não resolve.
Agressividade, só piora.
Violência gera violência.
O amor é a chave.
O bom mesmo é viver
em comunidade.
Fez-se um breve silêncio... Ana continuou.
- Janete seu pai tinha o direito de refazer a vida. Para isso precisava de uma companheira responsável e que também cuidasse de você, que por ser muito pequena precisava de cuidados especiais.
- E depois nasceram dois irmãos que se os aceitassem sem nenhuma restrição, você não teria sofrido tanto e não teria feito os outros sofrerem.
- Seu pai deve te amar muito e deve estar sofrendo com sua rejeição, sem falar da sua madrasta e também de seus irmãos. O dialogo é muito importante em qualquer relação com essa atitude você potencializou o sofrimento amargurando o seu próprio coração...
- Ana, eu te agradeço de todo coração, prometo a você e a mim mesma mudar essa a minha situação. Hoje mesmo procurarei a minha família e abrirei meu coração. Vou mudar a minha maneira de ser e tentarei expurgar de vez os ciúmes do meu coração, exercitarei a paciência, a tolerância, serei amiga e companheira, pois não quero mais viver na solidão. E olhe que já perdi muitas oportunidades de reconciliação e com isso causei muito sofrimento ao meu próprio coração, fiquei muito tempo enclausurada no egoísmo que não me deixou perceber a dor que meu comportamento a todos causou.
- Ana, todo esse tempo que você tentou aproximação, apesar de tentar ignorá-la, maltratá-la,, você voltava sempre com paciência, carinho e sem afetação, e todo esse grande esforço derreteu meu coração. Seu amor pelas pessoas para a vida é uma valiosa lição.